sábado, 27 de outubro de 2012

Alfasto.



A ausência de forças, da chama, combustível, impossibilita o próprio ato de pensar, escrever, viver, fazer, pensar, sentir e ser.

Ser por consequência, amar por esperança, viver por acaso.

Estar vivo não é uma das melhores experiências, quando esta é adurnada de ruas e estradas fortuitas, traiçoeiras e sufocantes. Carros passam a toda velocidade, pegando o que estiver no caminho e quem não tiver a destreza de escapar. Lá seguiu a menina, que encarnada esteve a atravessar a rua, para chegar novamente ao outro lado.

Perigo à todo instante, aflição a todo momento. A qualquer segundo um pequeno erro pode deixar escapar sua bomba pulsante, perdendo-a numa agonizante apinéia, ou tirando-lhe pela raiz seu fio vital.

A todo instante, uma pergunta: por quê? A todo instante, uma incipiente resposta: porque sim.

Não mais de floreios se fazem os fatos, não mais de mentiras se faz o caminho. O caminho faz as mentiras, que vem junto com os fatos, que tornam a coisa gostosa de se ver, numa indiferença quase que sádica.

Os dias não se tornam novos, visto que não há passado e futuro, apenas dias comuns, comuns ao presente. O presente que a todo momento se faz presente e constante, tão lamuriante e entediante como a própria palavra permeia.

Os carros passam por cima. Começa a ser atingida incessantemente por carros, que tão velozes não as deixam alternativa ou sequer levantar. Reerguer-se, se torna uma tarefa árdua, em vão e cada vez mais dolorosa. Ali esmagada, imóvel, agonizante e constantemente derrubada, passa a não sair mais do lugar. O chão começa a se tornar um ambiente agradável, quentinho, se sente pertencida.

Não havendo outra possibilidade, começa a ver o lado bom da tragédia: ao menos, estou protegida de ter de passar por isso de novo. Não tornará a acontecer, visto que não tornará a voltar. Não mais haverá a surpresa da situação, visto que não haverão mais os opostos. Estar nessa situação incessantemente é quase que um alívio para quem sempre tinha que viver a injustiça dos contrastes, do bom e do ruim, da perda e abandono. Não mais se tirará, algo que já lhe foi tirado, não mais lhe dará, algo que não pode ter. Pelo menos, não vivo o mais devastador dos sofrimentos. Decepção, nunca mais.

Almaga-se com o asfalto. Se tornam uma coisa só, indissociáveis, num mutualismo agora imprecindível. Constante é a situação, e difícil é não se sentir estranha ao sair.

O que é bom dura pouco. 

Os dias se tornam iguais, a realidade se torna dura. É bom sentir o asfalto, finalmente saber onde piso. Não perderei, visto que já perdi.

Finalmente, não se sabe pesar o que é pior. Ficar no asfalto, ou fazer visitas esporádicas.

Sofrer a perda, ou simplesmente, deixar de ganhar.

Ganhar e saber que vai perder, e perder e constatar que estava certa.

Viver, e não mais se sentir viva.

3 comentários:

  1. Aos meus olhos ficam imagens de luz e sombras, das nuances coloridas de um entardecer, ou do romper do dia... da escuridão da noite, ou do brilho solar do meio dia.
    Mas eu escolho o dia, a luz "exuberante, enebriante, brilhante, monumental, importante, vital..."
    "Finalmente, não se sabe pesar o que é pior. Ficar no asfalto, ou fazer visitas esporádicas."
    "Verdade. Será falsa? O limiar da dúvida, da responsabilidade que há de se carregar perante o destino. Qual caminho escolher? Qual conclusão tirar?"
    "Só há um caminho. Viver."
    "Emanando luz própria como uma estrela, subindo subindo, nos diversos mundos evolutivos"
    "Vivo para ser feliz. Autora de minha história, somente."
    "Um reconfortante e simples desabrochar, que como uma flor, solitária, mesmo sem alimento, irá fertilizar até morrer, com a luz que lhe alimenta..."

    Uma flor nasceu na rua!
    Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
    Uma flor ainda desbotada
    ilude a polícia, rompe o asfalto.
    Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
    garanto que uma flor nasceu.
    É feia. Mas é flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
    Carlos Drummond de Andrade

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  2. Hahaha lindo. Tem tudo a ver! Obrigada pelo lindo e construtivo comentário! E claro, obrigada por apreciar o meu trabalho! =) Agradeço a gentileza da visita e comentário! Um beijo grande =*

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  3. Falando em flor:

    http://www.youtube.com/watch?v=mBCMJAXpcsY

    bjs
    Marcos

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