Deitada aqui imóvel, busco alinhar os objetos em sua posição perfeita, mística, para chamar e receber em totalidade as bênçãos espirituais. Anjos anunciam a sua chegada de tempos em tempos, me dando o combustível para cada amanhecer. Sinto falta profunda do aconchego, do acolhimento, da proteção e do afago. Parece que um pedaço de mim se foi, e a fraqueza toma conta de mim me drenando por completo. Como um pedaço que está faltando, me sento, inclino minha cabeça e entremeio delicadamente uma de minhas mãos pelos cabelos com os dedos abertos, os fechando levemente, como se pelas pontas dos meus dedos eu pudesse recuperar aquilo que eu era. Me levanto com dificuldade com os cabelos esvoaçados caindo como a cachoeira dos lamentos, e sigo em direção ao rumo inevitável daquilo que não pode deixar de ser feito.
Como recuperar aquilo que saiu? Será que eu perdi pelo caminho? Ou será que me tiraram? Será que um dia vão me devolver? Ou será que eu serei capaz de me devolver?
Executo em cada nota o sentimento de um oceano abiçal, cada uma meticulosamente calculada e cronometrada. As notas pingam como gotas em um lago, vibrando até o fundo do universo da alma de vastidão monumental. Tangencio as cordas da existência como a varinha de uma bruxa.
A alma retorna aos poucos mas a fraqueza parece algo inerente da minha existência. As olheiras nunca vão embora, e os cabelos caem como em eterna redenção.
Marco o caminho com as pegadas dos meus feitos, para nunca esquecer de onde eu vim. Meus pés, mãos e boca vão desenhando o rumo da minha história, pedindo as mudanças necessárias para que as coisas melhorem.
Escrevo a minha história na Terra para que eu possa desencarnar em paz.