Ando para o mesmo lugar tentando encontrar algo, mas afundo como areia movediça. Procuro mas não acho nada no lugar. Tenho certeza que tem alguma coisa ali, mas é tão difícil alcançar. Quanto mais eu me movo tentando sair, mais eu afundo cada vez mais. Tento escapar do destino inevitável, mas é impossível. Há forças muito maiores operando, que lhe dragam por completo para dentro, e é impossível para qualquer um escapar. Como um buraco negro, ele engole tudo, e nada escapa ao redor. Sou engolida para dentro de mim mesma, e vou parar neste lugar aterrorizante. Entro em pânico, mas tento manter a calma. Só de olhar para o penhasco já dá frio na barriga. O vazio abissal que lá jaz me faz cair em queda livre. Numa meta-queda caio em mim mesma e afundo nas minhas muitas existências. Parece infinito. Será que irei cair para sempre? Existe um fundo?
Chego ao fundo, ergo as mãos para o céu e agradeço. Faço uma oração, e dou graças ao senhor. Deitada ali no chão, em posição fetal, olho à minha frente, e não vejo nada.
Pintura "A Persistência da Memória" de 1931 do Salvador Dali.